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Foto do escritorRicardo Sampaio

Como Estudar?... Eis a questão...

É muito fácil encontrar textos que falam ’você deve estudar’, ‘O que você precisa estudar’, mas encontrar dicas valiosas de como estudar já não é uma tarefa muito simples. ‘’Devo estudar 2 ou 7 horas por dia?’’; ‘’quantas páginas devo ler? 10 ou 50?’’; ‘’Qual hora do dia seria a melhor? 10h ou 22h?’’; ‘’como memorizar os conteúdos?’’; ‘’como tirar o melhor proveito daquilo que estou aprendendo?’’. É isto que pretendo destrinchar (mesmo que brevemente, pois o assunto é extenso e envolve muitas questões e especificidades) nesse texto.


É fácil identificar que os estudantes atuais só querem saber de uma coisa: a prova. ‘’Quando será?’’, ‘’quais assuntos vão cair?’’, ‘’será que as questões vão ser iguais às da revisão?’’, ‘’quanto vai valer?’’; uma consequência óbvia desse pensamento é: já que eu só vou precisar desses assuntos no dia da prova, por que aprendê-lo? Pra quê me dar esse trabalho? Não é melhor eu simplesmente anotar tudo e enfiar o máximo que puder na minha mente uma ou duas horas antes da prova? Vamos discutir um pouco sobre isso.


Funcionamento Cerebral

O cérebro humano tem, sem dúvida, capacidades incríveis. Ele é capaz de expressar e associar ideias através da linguagem, utilizar conhecimentos adquiridos para resolver problemas, enxergar mecanismos no mundo à sua volta, etc. Acontece que nem sempre sabemos como utilizar essas capacidades da melhor maneira para obter um certo resultado almejado. Isso pode acontecer por vários motivos: educação ineficiente, muitos problemas cotidianos, despreocupação em relação ao estudo, entre outros. Não proponho aqui ‘’A melhor maneira de aprender tudo o que você quer em apenas 4 passos’’. Não. Formação intelectual é um processo lento e as vezes penoso, mas recompensador. Exige que façamos certos esforços para chegar a um certo ponto. É claro que aqueles ‘aulões’ antes daquele vestibular ou de ENEM nos ajudam várias vezes a atingir um objetivo imediato, como entrar em uma faculdade, mas vamos estabelecer aqui o seguinte: decorar, memorizar e aprender são coisas diferentes.


Basicamente, nossa mente possui duas ‘’regiões’’ da memória: a ‘memória remota ou de curto prazo’, em que guardamos informações que só vamos precisar por um curto período, tal como uma lista de supermercado, e a ‘memória concreta’ em que guardamos informações que vamos precisar por um longo período de tempo, como o nosso CPF ou o nosso nome. As informações que retemos durante o dia são todas guardadas na memória remota e durante o sono algumas delas são transferidas para a memória concreta. É possível programar o nosso cérebro para enviar certas informações para a memória de longo prazo à nossa escolha, não é tão simples assim, mas quando se aprende fica fácil.


Decorar

Quando nós decoramos, aquela informação que estamos tentando ‘’enfiar’’ no nosso cérebro é enviada para a memória de curto prazo e assim que ela não for mais útil, ela simplesmente é jogada no ‘’lixo’’ da nossa memória, aquele lugar onde fazemos todo o esforço do mundo para buscar uma memória e só aparecem imagens confusas, isso quando ela não é descartada totalmente.


Memorizar

Já quando nós memorizamos, aquela informação vai para a memória concreta mesmo que nós não a entendamos completamente, como a fórmula de Bháskara, provavelmente o leitor não deve saber como se chega a ela, mas com certeza a conhece. Essa memória pode ser acessada, mas nem sempre pode ser explicada, isso porque normalmente ela é adquirida por repetição. A memorização era muito utilizada antigamente (pelos Jesuítas, por exemplo), e esse método formou grandes intelectuais. Veja, não é ruim memorizar alguma coisa, afinal, só podemos exercitar nossa memória se tiver alguma coisa lá, não é verdade? A memorização (pelo menos a meu ver) é um processo necessário a aprendizagem que vem sendo negligenciado por motivos que não cabe discutir aqui. Existem vários mecanismos para memorizar uma informação, o mais fácil deles é a repetição: repetir várias vezes o mesmo processo até que não seja mais necessário fazer esforço para realiza-lo. Basicamente, quando nosso cérebro percebe que estamos realizando uma mesma operação mental repetidas vezes, ele pensa: ‘’opa, se eu estou repetindo isso tantas vezes, provavelmente isso é importante, melhor eu guardar em algum lugar’’, ou seja, quando você repete, seu cérebro tem uma tendência maior a memorizar aquilo que você está fazendo.


Aprender

A aprendizagem acontece quando nós conseguimos acessar facilmente uma informação e além disso poder explicá-la. Essa informação é compreendida e absorvida pelo indivíduo, ligando-a a outras informações que ele obtivera anteriormente. O exemplo mais simples de aprendizagem é a alfabetização, onde as palavras, letras e sílabas que o indivíduo aprende a ler e escrever se relacionam com aquelas que ele já sabe ouvir e falar. Utilizando o exemplo da fórmula de Bháskara, é como se, além de saber a fórmula e aplicá-la, você pudesse ensiná-la a outra pessoa. Existe um certo problema nas escolas atuais na hora de relacionar os conhecimentos adquiridos anteriormente pelos alunos com aquilo que ele precisa aprender naquele momento, e, por óbvio, isso acaba virando uma grande bola de neve, pois é óbvio, não tem como relacionar um conhecimento atual com um outro que não foi memorizado ou aprendido pelo aluno, mas sim decorado. Daqui sai a primeira lição desse texto: estude para aprender ou, no mínimo, memorizar. Estudar para decorar é como se você rebaixasse o seu cérebro a um nível de frete: pegar uma certa coisa em um local, levar para outro e nunca mais ouvir falar daquilo. Memorizar é um instrumento necessário para adquirir uma informação não compreendida atualmente, mas que vai servir para o entendimento de uma informação mais complexa que a requisite.


Tempo para estudar

Vamos imaginar o exemplo de uma música. Você ouve a música a primeira vez, gosta dela, e então o que você faz? Ouve ela outra e outra vez. Lá pela terceira ou quarta vez você já sabe o refrão. Por volta da oitava vez já sabe a letra inteira, praticamente. A partir da décima vez você já sabe a melodia e é capaz de cantá-la ou reproduzi-la em sua mente em qualquer lugar e qualquer hora, é capaz até mesmo de separar trechos dela à sua escolha. No estudo de música também não é diferente. Para aprender um riff, por exemplo, o músico precisa repetir aquela mesma sequência de notas dezenas de vezes, mas depois disso ele é capaz de reproduzi-la a qualquer hora e até mesmo modificá-la. Estudar matérias como matemática não é muito diferente, você repete uma certa operação matemática ou lógica uma série de vezes, até que o seu cérebro não sinta mais esforço em realizá-la, e então você será capaz de reproduzir ela para outras situações. Mas, para que nós possamos fazer esse exercício é necessária uma coisa essencial: tempo. O músico precisa de várias horas por dia para aprender seus riffs e solos, assim como você precisa de um bom tempo para escutar aquela mesma música uma dúzia de vezes para aprendê-la. Para qualquer outra coisa não é diferente, sendo assim, temos aqui a segunda lição: reserve um tempo do seu dia para estudar.

Não precisa ser muito, é muito comum ver ‘concurseiros’ por aí recomendando estudar 4 ou 5 horas por dia, não é preciso tanto. Reserve um espaço de tempo que lhe seja confortável, mas é claro, isso não abre brecha para que você reserve 15 minutos por dia, ‘pera lá, amigo’. Além disso, escolha um horário sem muito barulho, e que seja sempre após a aula, ou seja, se a aula foi de manhã, estude à tarde; se foi de tarde, estude à noite; se foi à noite, sinto muito, mas você terá que dormir um pouco mais tarde. Como eu disse, as vezes o caminho do estudo exige certos sacrifícios.


A aula

Acabei de afirmar que esse horário de estudos sozinho deve acontecer sempre após a aula, isso exige então que você faça uma outra coisa: prestar atenção na aula. Esta é a terceira lição. Preste atenção na aula, para que na hora de estudar você possa lembrar qual foi o assunto tratado e assim fazer uma boa revisão. E a recomendação de que seja após a aula é justamente para que as informações que foram colocadas na memória remota não sejam jogadas no ‘lixo’. Outra coisa importante: tire dúvidas com o professor. Muitas vezes ficamos com vergonha de perguntar ao professor alguma coisa por medo de que nossos colegas achem que a pergunta é ‘’besta demais’’ ou que somos ‘’burros’’. Como diz a minha avó, ‘’deixe de besteira’’. Uma das principais funções do professor é essa. Talvez você não saiba, mas na idade média o estudo nas faculdades se resumia à leitura e discussão de textos, e o professor tinha a função de orientar os alunos nas suas pesquisas e leituras, além de sanar quaisquer dúvidas sobre o assunto. Ainda funciona assim em alguns países, como Irlanda e Finlândia. No Brasil o paradigma é diferente, é claro, mas isso não quer dizer que você não possa agir de outra maneira.


Estudos Independentes

Gostaria também de colocar uma lição que não é muito citada, mas que para mim é de suma importância: realize estudos independentes. Leia coisas que não são só aquilo que é passado pelos professores, vá atrás de outros assuntos que possam lhe interessar, ou mesmo se aprofunde em alguma área que você já gosta. Vá na biblioteca da escola, veja se tem lá algum livro que lhe cause curiosidade, se não encontrar lá pode perguntar aos professores, existem milhões de livros produzidos por milhões de pessoas ao longo da história, algum deles foi feito para você, então não desista!

Também é importante compartilhar o conhecimento adquirido, há quem diga que nós aprendemos muito mais falando do que ouvindo e lendo. Então, sempre que houver oportunidade, comente seus estudos com seus colegas, isso ajuda tanto você quanto eles. Mas tome cuidado, alguns podem encarar isso como sendo algum tipo de soberba, então lembre-se de estar sempre disposto a ouvir também o que os seus colegas tem a dizer sobre o assunto, sempre há o que se aprender com os outros.


Descanso

E para finalizar, uma das lições mais fáceis (ou pelo menos prazerosas) desse texto: tenha uma boa noite de sono. Durante o sono o seu cérebro faz novas conexões neurais, é nessa parte que você memoriza aquilo que foi importante e descarta o que não foi. O sono é a parte do dia em que nosso cérebro tem mais atividade cerebral (acredite se quiser), portanto ter um sono confortável e longo é uma ótima pedida depois de um dia de trabalho e estudo. Eu sei que nem sempre vai ser possível conseguir isso, mas faça um esforço, você merece.


Conclusão

Vamos fazer então uma recapitulação das lições que foram expostas para se ter uma boa e eficaz rotina de estudos:

- Estude para aprender ou, no mínimo, memorizar.

- Reserve um tempo do seu dia para fazer a revisão do conteúdo das aulas.

- Preste atenção na aula e tire dúvidas com o professor.

- Realize estudos independentes.

- Tenha uma boa noite de sono.

Creio que o estudante que consiga ter uma rotina pelo menos parecida com essa já conseguiria atingir patamares que os métodos de ensino atuais suam litros para conseguir. É preciso que você se torne antes de tudo um autodidata. Se você veio ler esse texto simplesmente com o intuito de buscar um método para passar naquela prova, ou naquele concurso, peço encarecidamente que reconsidere seu pensamento. Aristóteles disse que todas as coisas tendem ao bem e à verdade. Ora, a sua mente é uma máquina poderosíssima de busca por essas duas coisas, então por que não a usar para tal? Por que usá-la como um mero instrumento de ‘’tira daqui, coloca ali’’? Como eu disse no início do texto, reconheço a utilidade imediata do conhecimento, mas por que não buscar a utilidade atemporal dele?


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Stanley B.
Stanley B.
08 nov 2019

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